Recentemente um amigo que trabalhou comigo no Canadá (mais novo do que eu e que de forma inteligente - como todos deviam fazer com alguém mais experiente em sua área - sempre me procura por conselhos / uma visão externa imparcial) me procurou na DM do instagram para compartilhar seu novo problema de vida: se sentindo um verdadeiro impostor.
Algo que antes não sentia, agora veio à tona. O sentimento de que recebe demais e faz de menos; que não sabe tanto assim; que a IA trabalha mais por ele do que ele mesmo; que qualquer pessoa podia substituí-lo. Um sentimento que corrói, destrói a mentalidade positiva, faz o profissional sentir que na verdade ele é uma farsa e deveria ser exposto de vez e aniquilado.
Ele finalmente desenvolveu a Síndrome do Impostor.
O que é a sindrome do impostor?
A síndrome do impostor é um fenômeno psicológico onde pessoas altamente capazes sentem que não merecem seu sucesso. Mesmo tendo resultados concretos, elas atribuem suas conquistas à sorte, ao timing ou a fatores externos — nunca à própria competência.
Elas vivem com a sensação de que, a qualquer momento, serão “descobertas” como uma fraude. Essa síndrome não é um transtorno clínico, mas seu impacto é real e gera ansiedade, baixa autoestima, medo de se expor, auto-sabotagem e até bloqueios na carreira.
E aqui está o paradoxo: quanto mais você aprende, mais você tem consciência do quanto ainda não sabe. Ou seja, quem mais sofre com a síndrome do impostor costuma ser justamente quem é mais competente, mais experiente e mais comprometido com a qualidade do que faz.
Em ambientes como tecnologia, medicina, ciência ou liderança — onde o conhecimento é profundo e em constante evolução — a síndrome encontra terreno fértil. Mas sentir isso não significa que você está errado. Muitas vezes, significa que você está exatamente no lugar certo.
Um passo na evolução profissional
Pois é, essa síndrome é real e mais comum do que você imagina — especialmente entre profissionais altamente competentes. E, ironicamente, quase nunca afeta os medíocres.
O júnior arrogante não sofre disso. O gerente que vive de PowerPoint também não. Mas o sênior, o líder técnico, o engenheiro cascudo que sustenta sistemas críticos há anos… esse muitas vezes dorme pensando: “Será que eu sou tudo isso mesmo?”
Spoiler: é sim. E é justamente por isso que pensa assim. A síndrome do impostor atinge quem tem senso de responsabilidade. Quem olha pro todo. Quem conhece os riscos. Quem enxerga onde estão as próprias falhas — e tenta corrigi-las antes que virem problemas pros outros.
Se você sente isso, entenda: Você não é uma fraude. Você só é bom o suficiente pra saber o quanto ainda pode melhorar. E esse desconforto, essa dúvida silenciosa, é o que te mantém em movimento.
E como lidar com isso?
Se um dia você souber como resolver isso de vez, de forma que nunca mais retorne para nos atormentar: me diga, pois eu também vivo com isso - afinal, porque seria diferente? Assim como meu amigo que veio me procurar por estar sentindo isso pela primeira vez, eu também sinto esporadicamente. A diferença é que eu já sinto isso há anos - e aí você vai aprendendo a conviver com esse sentimento, como aprendemos a conviver com a raiva, com a tristeza, com a melancolia, entre outros.
A chave é que, com o tempo, você passa a aprender a discernir os momentos em que: i) você está apenas se preocupando à toa; e ii) quando você realmente está aquém do que devia e está ganhando louros simplesmente pelos méritos antigos: aqui é onde você deve ligar o alerta e investir mais de si mesmo em realmente preencher o gap de conhecimento.
É preciso entender que a vida nunca vai ser perfeita, os problemas, as preocupações, nada disso vai sumir. Eles apenas vão se moldando, se transformando, criando novo formato. É por isso que precisamos também nos moldar: para sabermos lidar com estes novos obstáculos que aparecem em nossa jornada mental rumo à paz de espírito.
Afinal, no fim do dia: trabalhamos para ficarmos em paz; estudamos para ficarmos em paz; buscamos companhias para sentirmos paz. Tudo é sobre paz. E a paz plena e absoluta é uma utopia inalcançável: podemos experimentá-la por alguns momentos, mas nunca teremos controle total.
TLDR: se você começar a se sentir uma farsa profissional, a chance de você estar se tornando um grande profissional é grande. Que ironia, não? Se algum dia você parar de se questionar, aí sim talvez seja hora de se preocupar.
Engraçado, muito desse pensamento eu também tenho. Mas quando procuro o líder para ter um feedback do meu trabalho, ele retorna que entrego "além do esperado", e isso é muito interessante. As vezes eu mesmo não consigo reconhecer isso, mas quem está fora tem essa visão imparcial como você disse, Durval.